Derivas Andinas
Lucio Boschi
(2022)
Lucio Boschi
(2022)
Atlas do Coração Andino
Desde muito cedo Lucio Boschi se descobriu um fotógrafo caminhante, obstinado a conhecer o mundo sentindo os pés no chão e documentando o que o seu coração iluminava à deriva. Aos 24 anos, percorreu largamente o seu país, a Argentina e, em seguida, viajou pelos cinco continentes, se ocupando de um olhar sobre os modos de vida nômades. Em 1998, o destino o levou de volta ao seu país e decidiu viver com a comunidade de povos originários, em Quebrada de Huichaira, Jujuy. Ali, no coração dos Andes, em meio às montanhas, Boschi passou anos de sua vida caminhando longas distâncias, por horas e dias a fio, conectando-se a um modo de vida primordial.
As fotografias de Lucio Boschi elegem a terra e os povos andinos como os protagonistas de sua paixão imemorial, dando forma a uma cartografia mergulhada em profundo silêncio-ritual e na fusão da espessura de tempos e memórias. O encantamento e vínculo com as pessoas e as paisagens reverberam também o engajamento ético e político do artista, que se dedicou à construção do MEC (Museo en los Cerros), na comunidade de Huichaira.
Os laços reverenciais de Lucio Boschi com os Andes nutrem o seu estado criativo, que segue revolvendo suas cartografias e as desdobrando em grandes mapas. Olhando sempre para a terra, o artista tem criado desde 2018 a série Mapas de los seres y de las cosas como gritos de uma pulsão de vida. Apoiando-se num anteparo, o chão, mistura elementos das montanhas andinas com seus próprios fragmentos, sapatilhas de andarilho, desenhos, traços, palavras, emoções. Amalgamados com pedras, chuva, poeira e fogo, produzidos sob a luz do sol ou das estrelas, os mapas fazem reviver suas derivas guiadas pela sobrevivência de suas memórias.
Em Derivas Andinas, a primeira mostra individual do artista no Brasil, dois Mapas de los seres y de las cosas foram especialmente finalizados no espaço do Ateliê CASA sob o céu, a lua, as estrelas e o chão de Campinas. O conjunto de obras desta mostra apresenta-se como a expressão máxima dessa supervivência das derivas andinas percorridas por Lucio Boschi ao longo de três décadas. Obras, caminhos e vida emaranhados dão a conhecer um Atlas das emoções que pulsam no Coração Andino.
Fabiana Bruno
Curadora
De 04 à 30 de junho de 2022